sábado, 2 de fevereiro de 2008

Acendendo uma fogueira na floresta do imaginário


Quando alguém acende uma fogueira, a intenção é se aquecer em uma noite fria, depois de uma longa viagem. Mas quando aí está reunido um grupo maior do que um homem solitário, a intenção se transforma em algo mais. O fato é que, fogueiras atraem histórias. Histórias de noites sem lua, de desertos inclementes, de crimes insolúveis, de seres fantásticos ou sobrenaturais.

Geralmente, o contador da história dá ênfase a um determinado momento do causo que está representando aos seus ouvintes atentos. Quer o narrador com isso valorizar sua narrativa e criar o clima adequado ao causo em questão.

Quem se senta em volta de uma fogueira, para ouvir histórias, deve ter plena consciência de que atrás dele impera a escuridão. A luz, apenas na sua frente, não consegue penetrar no mundo sombrio atrás dos protagonistas de uma bela noite inocente. O vento sussura, as árvores balançam. São as vozes dos espíritos querendo ser ouvidas. O corvo distante entoa sua lamentação lúgubre, a coruja vigia sobre um toco, ambos aguardando os ignóbeis homens serem devorados pela própria mente, pelo próprio medo. A nuvem encobre a lua, dando mais força à escuridão. Os homens, tomados de um sentimento inquietante, se encolhem, como se alguma coisa no fundo de suas almas sussurasse: "temam!". O frio penetra-lhes a espinha, gerando um desconforto ainda maior.

Em volta da fogueira descobre-se mundos, para além da verdade dos homens ali sentados, para além de onde alcança a luz. Para além... Pois é na escuridão que brotam as histórias, mesmo que posteriormente sejam contadas em volta de uma fogueira.




- Luciano Rodrigues

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